Entrevista concedida ao escritor Luís Delgado, na revista eletrônica literária 15:

 

No Literária 15 de hoje recebo meu grande amigo Sandro Henrique Souza. Um escritor que já mergulhou em várias vertentes literárias, poeta, contista, autor de romance, dramaturgo; isso sem falar de sua formação acadêmica que é riquíssima.

Com um estilo filosófico e sociológico, seus textos primam por uma essência reflexiva típicas de um escritor de notável erudição.

Sandro participou em alguns concursos e eventos usando também o pseudônimo Arts Hanryck.

Sandro possui uma visão de mundo incomparável, seus textos, construídos com dedicação e empenho em cada palavra, foram tecidos através de um olhar que compreende a realidade atual e também a passada. Textos de uma clareza e um dinamismo que levam o autor a refletir sobre si mesmo e o meio em que vive. Uma ótima dica de leitura para qualquer pessoa.

Acadêmico de Ciências Jurídicas. Cursou também Ciências Sociais e Políticas. É estudioso, tendo um conhecimento que abrange diversas áreas como sociologia, ciência política, filosofia, antropologia, história da arte, ciência do direito, psicologia social e forense. Na literatura, escreve romances, contos, prosas poéticas, aforismos e peças teatrais. Escreveu “Estigma de um besouro raro” (romance); “O sertão, um ser e a solidão” (prosa); “Sala fechada” (contos); “Telas, cores e espaços” (prosa); “Espelhos falsos, reflexos de ilusões” (romance); “Cinzeiro” (obra em verso); “O último brinde” (peça teatral); “Cama de páginas” (contos). Sua literatura tem cunho filosófico (existencialista e metafísica), psicológicos, sociológicos e político.

Estigma de um Besouro Raro se passa na década de 70, em meio à ditadura. Houve muita pesquisa? E até que ponto aprofundar nesse tema mexeu com suas visões de mundo?
A história se passa no ano de 1975. Como cursei Ciências Sociais, e sou acadêmico de Direito, minha visão de mundo se ampliou bastante. Estudei os períodos históricos e políticos do Brasil e do mundo, e que serviram como conteúdo importante para falar sobre o período ditatorial onde a narrativa acontece. Tive a influência das idéias marxistas. Muitos dos meus textos possuem críticas sociais. Estigma de um besouro raro consegue ir além de temas sociológicos, como o poder dominante, para falar dos diversos sentidos da liberdade, e de alguns fundamentos filosóficos.

Sua narrativa possui uma abordagem muito rica, um romance filosófico e sociológico incrível. Existe uma vontade sua desde a concepção do romance de operar alguma mudança social através da obra?
Em alguns livros que escrevi desejo que o leitor desperte para a realidade social vigente, as alienações, as explorações, as ideologias dominantes, como também para o sentido da existência. Meus livros, além de críticas sociais, contêm fortes abordagens existencialistas, psicológicas, metafísicas, solipsistas, gnósticas, teosóficas, budistas e espiritistas. Gosto de enriquecer meus escritos com todas essas linhas de pensamento. Anseio, de alguma forma, contribuir com minha literatura para as reflexões do ser nesta existência e o transcender dela. O livro Espelhos falsos, reflexos de ilusões, por exemplo, fala, entre outras coisas, de percepções, e o quanto somos ludibriados. Fala sobre inversões, uma realidade distorcida, e outra que transcende o nosso ser.
Ainda almejo ver um mundo mais humanista, fraterno, e que as grandes desigualdades sociais diminuam. Que o ser humano evolua no sentido do altruísmo, e na construção de sociedades justas.

Nos conte sobre o "cuidado", ou "precaução", ao escrever um livro onde cada frase têm toda uma intenção por trás, um significado, uma reflexão?
Ter tido contato com essa vastidão de linhas de pensamentos distintos, fez com que os meus livros se tornassem enriquecidos de termos e reflexões. Invento mensagens nas frases, principalmente filosóficas. Para um leitor que não teve contato com a filosofia, sociologia e a psicologia, talvez elas passem despercebidas, mas, para os que têm um bom embasamento nessas áreas das Ciências Humanas, notarão a diversidade de assuntos que trato em cada uma delas.

Você é um autor que passeia por várias áreas da Literatura, tendo inclusive escrito uma peça teatral chamada O Último Brinde. Essa sua multiplicidade sempre existiu ou foi uma progressão?
Leio bastante, e isso me permite ter uma percepção mais abrangente dentro da literatura, permitindo-me escrever sobre diferentes linhas literárias. Sou inquieto, não consigo me prender a uma só área da literatura. Claro que isso não foi de uma só vez. Comecei escrevendo contos, e posteriormente, romances, peças teatrais e poemas. Na peça O último brinde, eu junto elementos de metafísica, existencialismo, surrealismo e espiritualismo. Há dialética entre as duas personagens principais: uma tem visão niilista, a outra, espiritualista.

Entre contos, poesias, romances, peças de teatro; existe uma preferência ou algo com o qual você se identifica mais?
Eu gosto de todos esses gêneros, mas acredito que no romance, por ser uma narrativa longa, eu posso explorar melhor e com mais detalhes sobre algumas ideologias, e inventar situações e personagens.

Seus blogs possuem muita cultura, muitas citações, dentre elas percebe-se fortemente a figura de Friedrich Nietzche. Até que ponto ele influenciou sua vida, suas obras?
Os filósofos existencialistas Soren Kierkegaard, Jean-Paul Sartre, Martin Heidegger, Arthur Schopenhauer, e principalmente Friedrich Nietzsche, exercem bastante influência em quase tudo que escrevo. O que me encanta em Nietzsche é a forma que ele escrevia, repleta de aforismos. Além deles, outros escritores são base para os meus escritos, como Graciliano Ramos, Franz Kafka, Knut Hamsun e Rainer Maria Rilke. Este último, no livro Carta a um jovem poeta, aconselha Franz Xaver Kappuz, a olhar para dentro. É justamente o que faço. Tudo que escrevo vem de dentro, dos meus sentimentos.

Você é um escritor de uma formação notável, antropologia, sociologia, política, entre outras mais. Mergulhado em tanto estudo, e em contato com tanto conhecimento, qual a sua visão sobre a relação do brasileiro com a Literatura Contemporânea?
A Literatura Contemporânea Brasileira é fértil. Temos excelentes escritores, e outros que estão surgindo. Infelizmente ainda desconhecidos do grande público. Num país onde o índice de analfabetismo ainda é gigantesco, e a renda da maioria da população é escassa, é compreensível que não se leia muito. O que falta é dar condições para que os brasileiros leiam mais, e incentivo para os artistas da palavra.